Pedagogia Da Formação De Adultos
A formação e a educação de adultos, conheceu durante largos
anos, uma evolução com sentido de educar as pessoas, combatendo o
analfabetismo.
A Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), após a 2ª Guerra Mundial, defendeu uma educação de adultos continua ao longo da vida,
sendo que esta deverá dotar os indivíduos dos recursos cognitivos e sócio
emocionais para compreenderem o mundo. Para tal, a UNESCO, promoveu mudanças na
educação centradas no combate ao analfabetismo e, através de conferências
internacionais, nomeadamente na 3ª conferência, fez o apelo à funcionalidade da
educação de adultos. No entanto, a educação dos adultos começou a perder
importância, a favor da formação profissional, como é denotado nos documentos
que dizem respeito à 5ª conferência, promovida pela UNESCO.
O caráter humanista da UNESCO, defendeu uma educação de
adultos que visava o desenvolvimento integral do indivíduo, no sentido de este
poder realizar o seu potencial pessoal, não ficando limitado à preparação para
a integração no mercado de trabalho.
No final do
século XIX, destaca-se os contributos de Dewey (1916/1997), onde a educação é
entendida como um processo de desenvolvimento, que se relaciona com a
democracia. Segundo Dewey as sociedades democráticas são responsáveis pelo
desenvolvimento dos indivíduos, possibilitando participação dos mesmo na comunidade,
através da qual este a capacidade de desenvolver os interesses e
potencialidades. Este tipo de associação
entre os valores democráticos e a educação, conduz Dewey a defender maior
equidade e interatividade no ato educativo, bem como entre os conteúdos
educativos, não concordando com a separação entre a educação escolar e a
vocacional, o trabalho e o lazer. Desta forma, Dewey, aplica o método
experiencial à educação, como forma de elucidar como o conhecimento não é
estático, nem é descoberto pelo sujeito, mas sim construído quando, é
necessário resolver um problema. Dewey, afirma que a aprendizagem é um processo
psicológico e sociológico, e salienta que certas capacidades só podem
desenvolver-se em grupo.
Uma vez que
Dewey, não formulou nenhuma teoria específica, foi Lindeman, que em 1926,
transpôs o pensamento de Dewey, para a educação de Adultos. A proposta de
Lindeman, recai sobre a os adultos Socioeconómicos desfavorecidos, que
abandonaram o meio rural em busca de trabalho. Esta abordagem parte da valorização
da experiência em educação, onde o indivíduo constrói representações mentais.
Estes conteúdos mentais são usados para a resolução de problemas, pelo que
pensamento e acção surgem estreitamente ligados, nesta proposta. Lindeman
(1926) assume a educação como sendo um processo permanente, que não se confina
à infância e à juventude. Demarca a educação de adultos da formação
profissional, enfatizando os contributos da educação informal para a
aprendizagem dos adultos. Considera que a aprendizagem de adultos deve ser
organizada por temas e situações de vida, tendo por base a experiência.
Em 1991, Mezirow,
confirma que os problemas sociais das comunidades imigrantes, nos Estados
Unidos da América, constituíram uma preocupação, uma vez que a inclusão social
de minorias sociais e étnicas, tendo por base o pressuposto de que a
aprendizagem é um processo que permite ao adulto atribuir significados que
evoluem, esperando que a sociedade evolua também. Segundo, Mezirow, a
aprendizagem do adulto ocorre de quatro formas distintas. A primeira forma, respeita
essencialmente à aprendizagem através de esquemas de significação que o
indivíduo já desenvolveu e que são reforçados. A segunda consiste na aprendizagem de novos esquemas de
significação que sejam compatíveis com as perspetivas de significado já
existentes e que, deste modo, são reforçadas. A terceira forma de aprendizagem tem lugar através da
transformação dos esquemas de significação, mediante o processo de reflexão
sobre a experiência diária; por acumulação das alterações nos esquemas de
significação, podem produzir-se modificações nas perspetivas de significado. A quarta modalidade é a aprendizagem
através da transformação das perspetivas de significado; esta é a forma de
aprendizagem mais importante, pelo que a teoria de Mezirow também se designa
por teoria da transformação da perspetiva. É um processo mais profundo e que
envolve atividades de aprendizagem, desencadeadas por um dilema desorientador.
Mezirow
acredita que o meio para chegar a essa aprendizagem transformativa seja
confrontar os adultos com dilemas desorientadores. Já em 1996, Merizow afirma
que a aprendizagem é concebida como um processo permite utilizar as
interpretações anteriores para obter uma nova interpretação ou uma
interpretação alterada acerca do sentido da experiência atual, em ordem a guiar
uma futura ação.
Nos anos 50 e 60
do Século XX, surgiu no Brasil a pedagogia crítica de Freire, onde o autor
expressa a compreensão acerca do papel que a educação e os educadores podem ter
junto das populações de adultos sócio economicamente desfavorecidos: fazer da
alfabetização um caminho para a luta política contra a opressão. Para Freire, o
individuo pode captar e compreender a realidade dos diversos níveis, o que
configura a possibilidade de agir sobre essa mesma realidade. Freire estruturou
três níveis de captação e conhecimento da realidade: O primeiro nível consiste na captação mágica, em que o
sujeito não compreende as ligações entre os fenómenos e não é capaz de analisar
a sua situação; o segundo nível é o da consciência ingénua: o sujeito julga-se
capaz de dominar e compreender a realidade sem o ser, finalmente o terceiro
nível é o da consciência crítica, em que o indivíduo identifica e explica as
relações entre os fenómenos. Para Freire, a educação, é encarada como uma forma
para a compreensão e luta contra a opressão, associando à educação, uma
vertente emancipatória.
Após a depressão de 1929, Knowles, desenvolveu a sua opinião enquanto
formador de adultos desempregados, tendo recebido influência de Lindeman. Knowles
associa ao modelo pedagógico um ensino centrado na transmissão de conhecimento
pelo professor,
atribuindo aos alunos um papel passivo, de recetores desse conhecimento.
Considera que os alunos estão prontos para aprender o que o professor
determina, uma vez que a principal motivação dos alunos é extrínseca e corresponde
à transição de ano letivo. No modelo anagógico, o formador é um facilitador da
aprendizagem e o adulto assume um papel ativo e determinante na sua própria
aprendizagem, uma vez que o adulto só se envolve na aprendizagem se assim o
entender. A motivação do adulto é intrínseca e a experiência de vida deve poder
ser valorizada através das práticas que têm lugar na formação. Como o próprio
Knowles se apercebeu, as duas situações não são estanques e os dois modelos são
mais dois extremos de um contínuo, do que situações em alternativa.
Um novo conceito de Educação Recorrente, foi apresentada por Olof Palme,
como uma proposta educativa dirigida aos adultos que pretendiam integrar ou
regressar no sistema de educação formal, a par do desempenho de outros papeis,
inerentes à condição de adulto. Este novo método surgiu no governo social-democrata
sueco. Posteriormente este tipo de educação foi teorizado pela OCDE, em 1973,
assentando em três sectores: a educação formal pós-obrigatória,
a formação ligada ao desempenho de uma profissão e o enriquecimento cultural
dos indivíduos. Com a educação recorrente pretendia-se possibilitar, a todos os
adultos, o prosseguimento de estudos, num sistema educativo estruturado, em
alternância com outras atividades, como o trabalho e o lazer. Este ensino tem
como objetivo proporcionar a igualdade de oportunidade no acesso à habilitação
académica ao mundo do trabalho, à educação e consequentemente ao conhecimento.
A abordagem da formação/educação
de adultos foi designada, por aprendendo a aprender, em 1988, por Smith, sendo
inserida numa prespetiva sócio construtiva da aprendizagem, como defendem os
autores Perret-Clermont e Perret (2006). Estes autores defendem cinco exemplos
de situações propícias à aprendizagem de adultos: os adultos aprendem no decurso da ação; a aprendizagem face a situações imprevistas; a aprendizagem pode ocorrer com os colegas,
no local de trabalho e em cenários de formação formal; o adulto aprende ao distanciar-se; a aprendizagem ocorre através da reconfiguração dos problemas.